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O que comemos pode influenciar a nossa genética?

Recentemente uma notícia foi lançada na mídia, sobre a capacidade de a alimentação poder zerar os genes de algumas doenças.

Vários especialistas na área (geneticistas e nutricionistas) foram para suas redes sociais explicar tamanha barbaridade dita! Ufaaaa!


Neste texto quero tentar explicar de uma maneira simples como a ciência da Genômica Nutricional pode sim trazer benefícios e ampliar nossa visão sobre o impacto da alimentação em nossa saúde, porém não zera os genes de doenças que poderão ser herdados. Antes quero deixar claro que não sou especialista na área, mas gosto de acompanhar os estudos por envolver os micronutrientes e compostos bioativos (CBA), duas paixões que tenho em estudar. Então vamos lá!


Todas as células de um organismo multidisciplinar têm sequências idênticas de ácido desoxirribonucleico (DNA), portanto, o mesmo conteúdo de informação genética. Entretanto, essas células podem apresentar fenótipos, ou seja, características observáveis resultantes da expressão dos genes que são influenciados pelo ambiente. Por exemplo, gêmeos idênticos apesar de apresentarem sequências de DNA idênticas podem exibir fenótipos diferentes e predisposição distintas a determinadas doenças. Logo, a epigenética (informação “não genética”) pode ser modificada em respostas a estímulos específicos, como ambiente, alimentação e nível de estresse.


Durante o século XX, a ciência da nutrição teve como foco a descoberta de vitaminas e minerais essenciais para o ser humano, bem como a busca pela prevenção de doenças ocasionadas pela deficiência desses micronutrientes. Mais recentemente, os estudos passaram a ampliar os campos de investigação passando também a englobar, além da epidemiologia e fisiologia, aspectos da biologia molecular e da genética, neste contexto surgiram os estudos em Genômica Nutricional. Hoje ela se encontra subdividida em três subáreas: Nutrigenômica, Nutrigenética e Epigenômica Nutricional.


A Nutrigenômica tem por objetivo investigar os efeitos dos nutrientes e dos (CBA) sobre a expressão de genes e suas consequências nas relações entre saúde e doença. Um exemplo de nutrigenômica é quando ingerimos certos alimentos no dia a dia, como é o caso da castanha-do-Brasil (fonte do mineral selênio), o açafrão-da-terra (curcumina) e o chá-verde (epigalocatequina-3-galato). Compostos presentes nesses alimentos são capazes de ativar um fator de transcrição que provoca aumento da atividade de genes relacionados à capacidade antioxidante do nosso organismo. Por isso, sabemos que existem tanto alimentos que apresentam diretamente ação antioxidante, mas também aqueles que favorecem a produção pelo corpo de enzimas com esta ação.


Já a nutrigenética, tem como foco o estudo dos efeitos de variações no DNA, do ponto de vista histórico, acredita-se que o termo esteja relacionado ao proverbio “Ut quod ali cibus est aliis fuat acre venenum” (“o que é alimento para um é para outros veneno amargo”). Um exemplo clássico utilizado na nutrigenética é a fenilcetonúria, erro inato do metabolismo, de caráter autossômico recessivo raro, causado por mutações no gene que codifica a fenilalanina hidroxilase, portadores desta patologia devem fazer restrição alimentar do aminoácido fenilalanina, sendo assim, enquanto para você, comer um delicioso churrasco de domingo com a sua família pode ser maravilhoso, para o fenilcetonúrico pode ser o “veneno mais amargo!”


Por fim, chegamos à Epigenômica Nutricional, voltada ao estudo de um processo chamado metilação do DNA, dou como exemplo o folato (micronutriente) presente no espinafre, couve e brócolis. Este, participa desse processo de metilação - em química, fala-se da adição de radicais “metil” do DNA - , o que serve para controlar a expressão de certos genes. A baixa ingestão de folato, por exemplo, está associada a uma redução global na metilação do DNA, situação que pode elevar o risco de câncer.


A Epigenética desperta muito interesse especialmente porque eventos epigenéticos são herdáveis e ao contrário do genoma, cuja informação está alocada no DNA de forma permanente, ela pode ser modulada por fatores ambientais, têm a capacidade de alterar a expressão gênica e ainda são potencialmente reversíveis. Entretanto é uma área de estudo muito complexa e depende ainda muito do avanço de tecnologias de análise de epigenoma, sendo assim, tema muito complexo para ser falado por uma pessoa que pensa que pão engorda! VAMOS SEGUIR CIENTISTAS DE VERDADE!


Fonte:

COMINETE, C.; ROGERO, M. M.; HORST, M. A. Genômica nutricional: dos fundamentos à nutrição molecular. Barueri, SP: Manole, 2017.


Como referenciar este post?


MACHIAVELLI, Sabrina. O que comemos pode influenciar a nossa genética?. Post 236. Nutrição Atenta. 2022.

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