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Foto do escritorSabrina Kaely

Dieta enteral industrializada, semiartesanal e artesanal, entenda a diferença e o custo benefício

Atualizado: 18 de set. de 2022

A nutrição enteral pode ser dividida em três tipos de dietas; artesanal, semiartesanal e a industrializada. A artesanal é aquela que é preparada com os alimentos in natura de forma exclusiva ou associadas a módulos ou suplementos (semiartesanal), o preparo é feito em casa e o paciente pode consumir os alimentos que são hábitos da família. Essas fórmulas exigem cuidado especial não só no planejamento e cálculo, mas também na técnica de pré-preparo e cocção, padronização de medidas, observação das características físico-químicas e principalmente, nos cuidados com a higienização e manipulação dos alimentos durante os processos de elaboração e administração.


Já as dieta enterais industrializadas são aquelas completas em nutrientes, com menores chances de contaminação, (porém não isentas), pois já está preparada, é dividida em três formas: Em pó para constituição em água, líquidas em embalagens tetrapak, sendo necessário apenas o porcionamento para a administração e a de sistema fechado, apresentadas em bolsas de 500 ou 1000ml hermeticamente fechadas já prontas para conectar em bomba de infusão (normalmente essas dietas apresentam custos maiores e são mais comuns em hospitais) pois o ambiente hospitalar oferece maiores riscos de contaminação.


As dietas enterais industrializadas apresentam um custo muito superior às artesanais e não são todos os municípios brasileiros que oferecem dietas para os usuários SUS após desospitalização e necessidade de alimentação via sonda, no Brasil não existe política pública para dispensação de dietas industrializadas. Tendo em vistas essa necessidade alguns municípios têm desenvolvidos protocolos que recomendam dietas enterais feitas em casa. Um estudo americano apontou que a maioria dos pacientes em Terapia Nutricional Enteral Domiciliar (TNED) optaram por uso de dietas não industrializadas, por serem elaboradas em domicílio com alimentos usualmente utilizados pela família, e apresentarem melhor tolerância gastrointestinal, quando comparados as dietas enterais industrializadas (HURT, et. al., 2015).


No Brasil, a busca não está relacionada por uma alimentação mais natural, e sim ao alto custo das fórmulas que chega em média sair R$40,00 por dia, já a formula semiartesanal custa até R$12,00 por dia.

Aí você deve estar se perguntando com indignação: “E a contaminação das dietas caseiras? Eu sempre aprendi que as industrializadas são bem superiores nesse quesito e também na oferta de nutrientes...” É aí que nós nutricionistas entramos, de fato as industrializadas apresentam estas características que podem sim na hora da escolha da prescrição, ser o caminho mais fácil, pois é só prescrever e pronto. “Não preciso me preocupar tanto, a dieta já está pronta só vou ensinar a manipulação adequada e acabou.” Mas antes da prescrição, é extremamente importante saber: o paciente terá acesso a dieta industrializada? Ele vai comprar? E se não, ele vai conseguir adquirir pelo SUS?


É competência do nutricionista prescrever a dieta enteral e na necessidade da prescrição de dietas caseiras nós somos extremamente habilitados a fazer o cálculo e capacitar os familiares/pacientes no preparo, padronização de medidas, métodos de cocção e como manipular esta dieta evitando ao máximo a contaminação. Existe um apelo muito forte da indústria de deitas para que elas sejam mais prescritas, entretanto este tabu precisa ser quebrado. Em unidades hospitalares sem sombra de dúvidas, elas devem ser as únicas para uso, pois a artesanal, neste ambiente é inviável, entretanto no domicílio a prescrição da artesanal ou semiartesanal pelo nutricionista pode sim ser feita, sem medo! Inclusive a Portaria 120 de 14 de abril de 2009 do Ministério da Saúde, recomenda o seguinte:


“§ 3º As dietas artesanais e/ou semiartesanais deverão ser incentivadas naqueles pacientes sob cuidados e/ou internação domiciliar.

A minha única crítica em relação a isso é ao número de nutricionistas disponíveis no SUS para atuarem nesta área, aqueles municípios que conseguem dispensar fórmulas industrializadas, muitas vezes não tem nutricionista suficiente para o acompanhamento domiciliar de pacientes em TNED, gerando desperdício de dieta e prescrições indevidas. Uma experiência bem-sucedida é do município de Piraquara no Paraná, onde foi implantado protocolo com prescrição de dietas caseiras, a mistura consiste em alimentos contidos na cesta básica combinados com fórmulas industrializadas fornecidas pelo município. Com a economia, a prefeitura pôde contratar mais nutricionistas para fazer o acompanhamento personalizado desses pacientes, que antes não existia.



Referências:


ARAÚJO, Izabelle S. de et al. Guia multiprofissional de orientação para pacientes em uso de nutrição enteral domiciliar. Petrolina: HEWAB, 2017. ISBN: 978-85-92656-02-7


HURT, R.T, EDAKKANAMBETH, V. J, EPP, L. M. PATTINSON, A. K. LAMMERT, L. M., LINTZ, J. E. Blenderized tube feeding use in adult home enteral nutrition patients: a cross-sectional study. Nutr Clin Pract. 2015; 30(6):824-9


MINISTÉRIO DA SAÚDE. Portaria 120, 14 de Abril de 2009. Disponível em: <https://bvsms.saude.gov.br/bvs/sas/Links%20finalizados%20SAS%202009/prt0120_14_04_2009.html> Acesso em 23/08/2022


SOUZA, L.R.M; WILL, K. L. Fortalecendo a Rede de Atenção às Necessidades Alimentares Especiais: uma experiência com fórmulas enterais semiartesanais, em Piraquara-PR. Demetra Alimentação, Nutrição e Saúde. v. 12, n.3 (2017).



Como referenciar este post?


MACHIAVELLI, Sabrina. Dieta enteral industrializada, semiartesanal e artesanal, entenda a diferença e o custo benefício. Post 322. Nutrição Atenta. 2022.

Instagram: @nutricionistasabrinakaely

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