O atendimento nutricional domiciliar tem suas peculiaridades, e saber pensar “fora da caixa” é muito importante para que o problema do paciente seja resolvido ali mesmo na sua casa, pois muitas vezes, pacientes que necessitam de atendimento domiciliar são totalmente acamados ou domiciliados, em condições temporárias ou permanentes dificultando assim seu deslocamento até uma clínica ou unidade de saúde.
Quando o atendimento é realizado com equipe multidisciplinar, o paciente pode ser avaliado no mesmo dia por vários profissionais diferentes, médico, fisioterapia, nutricionista... Sendo assim, o atendimento deve ser objetivo e humanizado.
Alguns pacientes em situações mais críticas com baixa ingestão alimentar, podem requerer uma via alternativa para se alimentar, que é o caso da alimentação via sonda enteral. Após avaliação da equipe, o médico realiza a prescrição da sonda e o nutricionista faz a prescrição da dieta enteral (conduta essa exclusiva do nutricionista).
E agora nutri?
Bom, o primeiro passo é fazer a avaliação antropométrica coletando os dados de peso e estatura, como estamos falando de pacientes acamados deve-se estimar estes dados através das formulas disponíveis na literatura, então a minha dica é montar este material para levar no atendimento, você também vai precisar das formulas para estimativa de gasto calórico.
Após os cálculos realizados, vamos para a prescrição da dieta. Escolher uma dieta muitas vezes parece ser bem complicado, então familiarize-se com elas, veja quais estão disponíveis no seu município e estude os rótulos.
Exemplo prático: O paciente está a alguns dias com a ingestão alimentar bem abaixo de suas necessidades nutricionais e após os cálculos foi verificado que o gasto energético total (GET) do paciente é de 2000kcal/dia.
Para o primeiro dia de administração da dieta comece com um volume baixo, cerca de 30% do GET (600kcal). Se for prescrito uma dieta normocalórica, o volume da dieta para atingir os 30% será de 600ml, que poderá ser dividido em três horários, ou seja, será ofertado um volume de 200ml três vezes ao dia, a evolução da deita deve ser realizada conforme a aceitação desta pelo paciente, até que seja atingida as metas nutricionais propostas.
Deixe por escrito as orientações iniciais para o paciente ou familiar, estas orientações devem ser claras, sem termos técnicos, pois para o profissional que trabalha com dieta enteral a administração da dieta é muito simples, porém para o paciente ou familiar é uma novidade que muitas vezes assusta.
Sempre tenha com você frascos, equipo de dieta e seringas, ensine o paciente ou o responsável pelos cuidados como deve ser realizada o preparo da dieta (se for em pó como será diluída), cuidados com higiene no preparo e com a sonda enteral. Neste primeiro momento repita as orientações que devem ser bem claras e objetivas. Peça para o paciente ou familiar repetir o processo que foi ensinado para que sejam esclarecidas as dúvidas.
Seguem aqui, as principais orientações:
Preparo da dieta (porcionamento, diluição);
Higiene no preparo;
Higiene na sonda de alimentação (por dentro e por fora);
Horários para a administração da dieta (isso deve ser escolhido junto com o paciente e familiares para que seja adaptado conforme a rotina da casa);
Posicionamento do paciente durante e após a administração da dieta.
A minha última dica é: Seja empático! O sucesso da terapia nutricional vai depender do cuidado diário que os familiares deverão realizar e isso só será possível com a capacitação dos mesmos, cabe ao profissional nutricionista realizar esta capacitação da melhor forma possível considerando a rotina da casa e dos cuidados com o paciente.
Sugestão de leitura:
Caderno de Atenção Domiciliar: Cuidados em terapia nutricional. Disponível em:
Como referenciar este post?
MACHIAVELLI, Sabrina. Como calcular e prescrever dieta enteral no domicílio?. Post 311. Nutrição Atenta. 2022.
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